BusinessDrops: Guerra no streaming… de jogos!


O futuro do mercado de games parece estar mesmo focado no streaming. Ainda é cedo para afirmar que o hardware se tornará secundário, mas fato é que os grandes players estão se organizando para oferecer mais e mais jogos pelo modelo de assinatura. Neste sistema de compra recorrente, o streaming não é necessariamente a única possibilidade: tanto que entre os fabricantes de consoles, todos já possuem há anos algum tipo de plataforma digital com benefícios para os assinantes.

Porém, com a entrada da Netflix, as possibilidades com o 5G e as recentes investidas da Microsoft, pode ser que este cenário se altere mais rapidamente.

– Microsoft pode revolucionar ao dispensar o console?

O GamePass da Microsoft pode ser a chave para entender o futuro do mercado de videogames. Embora não se preste tanta atenção nisso, a plataforma conta com o Xbox Cloud, que permite que os usuários joguem os títulos disponíveis mesmo de um smartphone. Inclusive foi noticiado na última semana pela própria Microsoft que cerca de 20% dos usuários do serviço jogam sem o auxílio de um controle físico, usando apenas comandos touch.

Ou seja: potencialmente existe uma fatia considerável de usuários que, a despeito de terem um PC ou um Xbox, estão jogando sem o auxílio desses equipamentos.

Isso pode significar uma nova era para o segmento de jogos eletrônicos. Se até então o mercado sempre girou em torno de hardware, em um futuro bem próximo, podemos ter a fatia de mercado tradicional “adentrando” um pouco no segmento mobile (e também nas smart tvs), já que em novas arquiteturas, o único elemento necessário para acesso aos jogos será um dispositivo com capacidade de conexão (e, claro, uma conexão que aguente este fluxo de informação).

Enquanto isso, outra gigante se prepara…

– Sony prepara novo serviço nos moldes do GamePass

A Sony planeja um novo serviço para concorrer diretamente com o GamePass da Microsoft. O projeto por hora atende pelo nome de Spartacus. A notícia pipocou no noticiário internacional nas últimas semanas. Na realidade, a Sony já possui a sua Playstation Network e o serviços PSN Plus, que oferece títulos gratuitamente todos os meses, algumas promoções exclusivas etc. Mas aparentemente, a ideia é recompilar tudo, dar uma nova roupagem (e com isso, novo fôlego) para se comparar frontalmente ao sistema do XBox.

Streaming a vista?

Certamente. Até porque a Sony já possui um serviço deste tipo, o Playstation Now, que ainda não é necessariamente um ponto de destaque dentro do ecossistema da PSN, tampouco é disponibilizado em todos os mercados.

A nova roupagem para o seu conjunto de serviços digitais mostra que Sony está de olho nas mudanças neste mercado.

– E quando a Netflix entrar?

O grande ponto de inflexão neste mercado se dará em 2022, quando Netflix de fato disponibilizar seu novo serviço. Vamos aos números hoje: o mobile gaming já representa pouco mais de 50% do faturamento total. A outra metade se divide entre consoles tradicionais e PCs. Mas a peculiaridade do mobile gaming está relacionada a um fator que garante o seu tamanho (e também seu rápido crescimento): a ausência de barreiras de entrada para o consumidor.

Embora aqui no Brasil este cenário sempre tenha sido mais desafiador, fato é que em qualquer lugar do mundo, comprar um videogame ou um PC com capacidade para games sempre foi uma barreira de entrada, por mais baratos e acessíveis que tais equipamentos possam ser em mercados internacionais. No mobile, este cenário é muito diferente: praticamente todos possuem um celular. Usá-lo ou não para jogos é uma decisão de momento. A ascensão dos jogos casuais, que não demandam tanto conhecimento, habilidade ou tempo de dedicação, faz com que literalmente qualquer um se torne um jogador em potencial. Minha mãe, por exemplo, joga no seu smartphone. Mas ela jamais gastaria um centavo para comprar um videogame, tampouco para equipar um PC.

Por esta razão, o mercado mobile acaba tendo um porte maior que os demais, já que tem potencial para agregar perfis de usuários que jamais se encaixariam nos modelos mais tradicionais. Agora voltemos à Netflix: a empresa vem contratando profissionais e executivos de peso para comandar sua nova divisão de games. Ainda não tivemos muitas informações sobre parcerias com desenvolvedoras e grandes estúdios, mas se a empresa tiver o mesmo fôlego com o setor de games que possui no ramo das produções audiovisuais, podemos esperar uma avalanche de jogos na plataforma para o próximo ano.

Avalanche que será sim, quase que 100% baseada na experiência mobile e certamente focada em games casuais, para agregar o maior volume possível de jogadores.

Portanto, minha aposta é que em um primeiro momento a Netflix será capaz de captar uma parte do mobile gaming (que hoje movimenta em torno de US$ 80 bilhões ao ano). Mas não demorará nada para que ela ocupe o espaço das TVs também, com o lançamento de acessórios compatíveis (controles) e a atração de um público mais hardcore com títulos de peso.

Está aí o ponto de inflexão… Da mesma forma que a Netflix em um passado recente foi uma das forças a acelerar o mercado de smart tvs e aparelhos 4K, poderia ser ela também a acelerar o estabelecimento de um novo paradigma no mercado de games? Aguardemos…

– A revolução silenciosa da Microsoft contra a Valve

No campo do PC Gaming, a plataforma Steam, da Valve, é a maior. Como um grande market place de games, a Steam recentemente comemorou um novo recorde de usuários ativos simultâneos na plataforma: 27 milhões de jogadores. O que poucos observam é a caminhada paulatina e silenciosa da Microsoft em direção a esta fatia do bolo: os recentes anúncios do Windows 11 e as próprias funcionalidades do GamePass mostram claramente esta intenção.

Ter a possibilidade de jogar os títulos do Xbox sem ter um Xbox (usando apenas um PC ou mesmo um smartphone, pelo serviço Cloud, conforme já comentamos) torna o pacote da plataforma da Microsoft incrivelmente atrativo. Sem falar que não há custo na compra dos jogos, como é o caso da Steam hoje (por mais que ela tenha preços muito mais agressivos que os seus concorrentes do ramo do consoles), pois há um grande catálogo disponível para os assinantes.

Se praticamente todo hardware disponível se transformar em um Xbox em potencial (ok, via streaming, com suas limitações em um primeiro momento), qual pode ser o tamanho deste mercado para a Microsoft, pegando uma fatia tanto do mobile quanto do PC Gaming? Vale comentar que o Xbox Cloud ainda está em versão beta, conforme informa a própria empresa. Mas acho que está bem claro o que vem por aí.

– E a Nintendo?

Enquanto o mercado se movimenta, a lendária gigante japonesa segue seu curso em velocidade de cruzeiro. Não que ela esteja errada: o Nintendo Switch continua vendendo muito bem e tudo indica que se tornará o console de maior sucesso da companhia (superando o Nintendo Wii, que vendeu mais de 100 milhões de unidades ao longo de seu ciclo de vida). No início deste ano, o serviço de assinatura Switch Online ultrapassou a marca de 32 milhões de assinantes. Nada mal para uma companhia que até então fez pouco alarde em relação a sua plataforma própria.

Evidente também que a Nintendo detém estupenda força pelo imenso universo de propriedades intelectuais que possui, praticamente a transformando em um ecossistema que não compete diretamente com os rivais. Como seu modelo de assinatura já dá claros sinais de sucesso (cerca de 1/3 da base instalada de consoles possui assinatura ativa) e independente de acontecer via streaming ou por meio de download dos títulos, podemos dizer que a gigante japonesa está bem preparada para o solavanco.

Coin2Biz no ar!

Na semana passada publicamos o último episódio do ano do Coin2Biz, nosso podcast sobre o mercado dos jogos eletrônicos, falando justamente das tendências para o próximo ano, entre elas, a entrada dos serviços de streaming na disputa. Ouça aqui!

Sobre o BusinessDrops:

O BusinessDrops é uma coluna semanal produzida pelo professor Bruno Garcia com comentários e análises sobre os principais assuntos da semana no mundo dos negócios. Ela é enviada prioritariamente por e-mail e depois disponibilizada aqui em nosso blog.

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